Tirando as teias de aranha daqui, volto com um post que foge da linha técnica.
Deixa eu começar com uma história que me aconteceu uns dias atrás. Uma amiga minha, a Jaque, começou a fazer uns cursos voltados para desenvolvimento web. Ela, designer, ficou um tanto espantada com a complicação que é fazer a coisa direito (tags, HTML x XHTML, CSS, seletores, propriedades, navegadores diferentes renderizam diferente, preocupação com múltiplas plataformas, navegadores, resoluções de tela).
Também pudera, qualquer pessoa que entra no mundo de fazer web a sério desanima quando topa com toda essa complicação técnica. Eu conversei com ela, expliquei, mostrei algumas ferramentas legais (como alguns addons MUST HAVE do Firefox...). E depois de um tempo, lembrei que eu tinha feito a tempos atrás uns mock-ups praticamente bullet proof.
Uns esqueletões em XHTML e CSS, com direito a menuzinho bacana e tudo o mais, cross-browser (não cheguei a testar no IE8, no FF 3.5, nem no Opera 10... ainda), adaptável a várias resoluções, e por aí vai. Claro que a intenção não era dispensar o trabalho de um designer ou de um programador, mas pelo menos para essa parte chata, burocrática e que consome um tempo enorme do desenvolvimento poupar tempo, bastando apenas editar cores, bordas, fontes, espaçamentos e rechear com as imagens.
Enviei pra ela (pro namorado dela e para mais dois amigos). Ela achou bacana, completamente crú, mas dentro da proposta de facilitar as coisas. E eis que ela me lança a pergunta: "Hey, pq vc não vende isso?". Na hora fiquei meio sem reação, mas respondi que é pq eles eram meus amigos, oras.
Mas no fundo, é o mesmo motivo pelo qual eu escrevo e publico tutoriais ao invés de dar aulas particulares. É porque eu encaro o conhecimento como um bem para a humanidade. É isso. Tem gente que não entende, ou não concorda, ou ainda que acha insanamente altruísta esse lance todo.
Pode ser. Afinal, vamos a uma análise do processo. Construir algo de útil demanda recursos. Muitos recursos. No caso do software não é qualquer pessoa apta a criar algo, muito menos com qualidade e refinamento. Demanda muito tempo e dedicação, muito estudo, tentativa e erro, refinamento, leitura e aprendizado de novas técnicas... Mas depois que você tem algo relativamente satisfatório em mãos, não há muito mais o que fazer. O custo para a reprodução, replicação é MUITO baixo. Ao contrário de fazer um trem por exemplo, que demanda muita matéria prima, o software não demanda praticamente nada.
Esse é um dos pontos. Um outro é compartilhar conhecimento. Vamos tomar por base algum framework, como o Rails, o Kohana, ou o JQuery. Sem dúvida dá pra aprender muito e/ou aprofundar seriamente os conhecimentos apenas lendo os códigos deles. E sim, eu acredito que pessoas que fazem isso, que leem códigos levam o que fazem a sério, então nada mais justo do que compartilhar conhecimento com essas pessoas. Um dia mais tarde elas podem - e quase sempre realmente fazem isso - ajudar a aprimorar algo que também seja Open Source.
Ler códigos, analisar e entender, é uma das melhores práticas para se aprender alguma nova técnica e assim melhorar a qualidade do seu serviço, ou notar onde vc estava errando na sintaxe/raciocínio.
OK, falei do caso software, baixo custo de reprodução, vantagens à comunidade que realmente sabe e gosta do que faz. Mas e as outras coisas? Outros produtos e bens. Vamos terminar com um pouco de história.
Eu falei do trem. Para produzir um são necessários vários recursos. Mas e a planta, os rascunhos, o processo? Nada mais são do que folhas com anotações, desenhos, valores chave.... De posse desses documentos, qualquer pessoa com condições de ler e interpretar, e tendo os recursos necessários poderia reproduzir o produto em questão. seja uma folha de papel, ou um foguete.
Santos Dummont tinha essa visão, e também alegava que o conhecimento é um bem para a humanidade. Todos os seus projetos eram o que poderíamos chamar hoje de Open Source.
Assim, creio que nossa sociedade ainda não está evoluída a tal ponto, mas há indivíduos que já tem essa perspectiva de contribuição científica e cutural (hoje temos mais que antes) e dos benefícios que essa partilha trás.
É isso, até a próxima.
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