terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Santos Dummont era open source

Tirando as teias de aranha daqui, volto com um post que foge da linha técnica.

Deixa eu começar com uma história que me aconteceu uns dias atrás. Uma amiga minha, a Jaque, começou a fazer uns cursos voltados para desenvolvimento web. Ela, designer, ficou um tanto espantada com a complicação que é fazer a coisa direito (tags, HTML x XHTML, CSS, seletores, propriedades, navegadores diferentes renderizam diferente, preocupação com múltiplas plataformas, navegadores, resoluções de tela).

Também pudera, qualquer pessoa que entra no mundo de fazer web a sério desanima quando topa com toda essa complicação técnica. Eu conversei com ela, expliquei, mostrei algumas ferramentas legais (como alguns addons MUST HAVE do Firefox...). E depois de um tempo, lembrei que eu tinha feito a tempos atrás uns mock-ups praticamente bullet proof.

Uns esqueletões em XHTML e CSS, com direito a menuzinho bacana e tudo o mais, cross-browser (não cheguei a testar no IE8, no FF 3.5, nem no Opera 10... ainda), adaptável a várias resoluções, e por aí vai. Claro que a intenção não era dispensar o trabalho de um designer ou de um programador, mas pelo menos para essa parte chata, burocrática e que consome um tempo enorme do desenvolvimento poupar tempo, bastando apenas editar cores, bordas, fontes, espaçamentos e rechear com as imagens.

Enviei pra ela (pro namorado dela e para mais dois amigos). Ela achou bacana, completamente crú, mas dentro da proposta de facilitar as coisas. E eis que ela me lança a pergunta: "Hey, pq vc não vende isso?". Na hora fiquei meio sem reação, mas respondi que é pq eles eram meus amigos, oras.

Mas no fundo, é o mesmo motivo pelo qual eu escrevo e publico tutoriais ao invés de dar aulas particulares. É porque eu encaro o conhecimento como um bem para a humanidade. É isso. Tem gente que não entende, ou não concorda, ou ainda que acha insanamente altruísta esse lance todo.

Pode ser. Afinal, vamos a uma análise do processo. Construir algo de útil demanda recursos. Muitos recursos. No caso do software não é qualquer pessoa apta a criar algo, muito menos com qualidade e refinamento. Demanda muito tempo e dedicação, muito estudo, tentativa e erro, refinamento, leitura e aprendizado de novas técnicas... Mas depois que você tem algo relativamente satisfatório em mãos, não há muito mais o que fazer. O custo para a reprodução, replicação é MUITO baixo. Ao contrário de fazer um trem por exemplo, que demanda muita matéria prima, o software não demanda praticamente nada.

Esse é um dos pontos. Um outro é compartilhar conhecimento. Vamos tomar por base algum framework, como o Rails, o Kohana, ou o JQuery. Sem dúvida dá pra aprender muito e/ou aprofundar seriamente os conhecimentos apenas lendo os códigos deles. E sim, eu acredito que pessoas que fazem isso, que leem códigos levam o que fazem a sério, então nada mais justo do que compartilhar conhecimento com essas pessoas. Um dia mais tarde elas podem - e quase sempre realmente fazem isso - ajudar a aprimorar algo que também seja Open Source.

Ler códigos, analisar e entender, é uma das melhores práticas para se aprender alguma nova técnica e assim melhorar a qualidade do seu serviço, ou notar onde vc estava errando na sintaxe/raciocínio.

OK, falei do caso software, baixo custo de reprodução, vantagens à comunidade que realmente sabe e gosta do que faz. Mas e as outras coisas? Outros produtos e bens. Vamos terminar com um pouco de história.

Eu falei do trem. Para produzir um são necessários vários recursos. Mas e a planta, os rascunhos, o processo? Nada mais são do que folhas com anotações, desenhos, valores chave.... De posse desses documentos, qualquer pessoa com condições de ler e interpretar, e tendo os recursos necessários poderia reproduzir o produto em questão. seja uma folha de papel, ou um foguete.

Santos Dummont tinha essa visão, e também alegava que o conhecimento é um bem para a humanidade. Todos os seus projetos eram o que poderíamos chamar hoje de Open Source.

Assim, creio que nossa sociedade ainda não está evoluída a tal ponto, mas há indivíduos que já tem essa perspectiva de contribuição científica e cutural (hoje temos mais que antes) e dos benefícios que essa partilha trás.

É isso, até a próxima.
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